Eu não choro de uma vez, um único pranto. Vou chorando aos poucos... Choro aos pedaços, que não se estanca E quem mede o tanto é o que despeja É o poder de jorro, a aflição do sentimento E o sangradouro do coração. Quanto mais lembro o que já esqueci Mais me respinga as vestes, águas que se invertem Em doçura e sal, em candura e mal. E eu choro, pelos olhos, e narinas Me molho inteiro, como um dia de janeiro. Para o que já previam um temporal sem controle. Choro pelo choro, das lágrimas que vejo Pelas que escorrem e eu pressinto o veio Que é infindo, desagua não sei onde Mas em algum lugar do mundo O que verti terá valido, como água Como alívio da sede dos sequiosos Choro pelo que vem, ou vai, e pelo que nem sei. Choro pelo que imagino e não vejo O que imagino existirem, por ai, como eu Corações mais férteis, lugares desertos Quem ame mais que eu Pois não se chora e se dissolve pelo mesmo mal. E o que provoca essa explosão interna Dos leitos sob a terra, lágrimas de olho São as dores, são as dores, são as dores. São os amores, são os amores, são os amores. As dores que causam os amores quando doem. Os amores que causam as dores quando doem.
Lúcia Mendonça
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